quarta-feira, 9 de maio de 2012

De “Garganta do Diabo” para “Ponte sobre o Vale do Menino Deus”

O presente trabalho tem o objetivo de explicitar a presença da história/memória na produção de sentidos que se observa nas relações entre imagem, práticas sociais e modos de designar um ponto turístico, portanto espaço público, de Santa Maria, RS. O “Viaduto sobre o Vale do Diabo” ou, simplesmente, “Garganta do Diabo”, situado na entrada/saída da cidade, revela uma vista privilegiada, sobretudo, para quem chega.
Tais designações instituíram-se historicamente sobre o fato de que antes da construção de tal viaduto (o que ocorreu na década de 50 do século XX) aquela “passagem” na saída/entrada da cidade era muito íngreme.
Popularmente se conta, também, que aquele espaço era de difícil ocupação, o que foi comparado com algo próprio ao diabo. Como hoje a “Garganta do Diabo” é um dos cartões postais da cidade, a designação passa a “incomodar”, o que levou o legislativo municipal a propor, na década de 90 do século XX, a alteração desta designação. A proposta de alteração justifica-se no fato de que seria “uma denominação imprópria” para um lugar de tão bela paisagem e com tamanha importância social (entrada e saída da cidade). E qual seria então a “denominação própria”? Esta proposta foi encaminhada à Câmara e ao Senado Federal que, em 2002, aprova a alteração para “Ponte sobre o Vale do Menino Deus”, fazendo referência ao nome do Bairro mais próximo do referido viaduto, o Bairro Campestre do Menino Deus.
Eis que tem início uma nova era para o importante cartão postal, imagem que representa a cidade de Santa Maria, essa foi a conclusão precipitada a que muitos chegaram à época, pois as relações entre imagem, prática social e modos de designar não se transformam assim tão rápida e diretamente. Passaram-se sete anos e a história/memória perdura, ressoa, retorna; mesmo que sendo dita, oficialmente, de outra forma, a referência ainda é “Garganta do Diabo”. É ainda do alto da serra, de cima do “Viaduto sobre o Vale do Diabo”, da “Garganta do Diabo”, que se lança o primeiro olhar sobre a “Santa Maria da Boca do Monte”. Selecionamos matérias de jornais locais dos últimos tempos, sobretudo, de 2009, nas quais é possível observar esse jogo entre as duas designações: no primeiro plano temos a “Ponte sobre o Vale do Menino Deus” e, em seguida, entre parênteses, temos a “Garganta do Diabo”.
Nossa reflexão, então, traz à baila questões referentes ao funcionamento da história e da memória, a presença e o funcionamento de cada uma: a primeira vinculada (neste caso) ao que é oficial; já a segunda, funcionando no dizer, caracterizando-se como lacunar e saturada, retornando sempre. Estas duas noções são muito caras aos estudiosos do discurso e é desta perspectiva que nos propomos a observar as relações entre imagem, prática social e modos de designar o espaço público.

Por: Bruno Salazar, Kauan Monteiro, Luana Blum e Luana Sara.




2 comentários:

  1. Fonte deste texto:

    http://www.ppgl.ufscar.br/ciad/resumos/resumo_corpus_verlipetri.pdf

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