De “Garganta do Diabo” para “Ponte sobre o Vale do Menino Deus”
O presente trabalho tem o
objetivo de explicitar a presença da história/memória na produção
de sentidos que se observa nas relações entre imagem, práticas
sociais e modos de designar um ponto turístico, portanto espaço
público, de Santa Maria, RS. O “Viaduto sobre o Vale do Diabo”
ou, simplesmente, “Garganta do Diabo”, situado na entrada/saída
da cidade, revela uma vista privilegiada, sobretudo, para quem chega.
Tais designações
instituíram-se historicamente sobre o fato de que antes da
construção de tal viaduto (o que ocorreu na década de 50 do século
XX) aquela “passagem” na saída/entrada da cidade era muito
íngreme.
Popularmente se conta,
também, que aquele espaço era de difícil ocupação, o que foi
comparado com algo próprio ao diabo. Como hoje a “Garganta do
Diabo” é um dos cartões postais da cidade, a designação passa a
“incomodar”, o que levou o legislativo municipal a propor, na
década de 90 do século XX, a alteração desta designação. A
proposta de alteração justifica-se no fato de que seria “uma
denominação imprópria” para um lugar de tão bela paisagem e com
tamanha importância social (entrada e saída da cidade). E qual
seria então a “denominação própria”? Esta proposta foi
encaminhada à Câmara e ao Senado Federal que, em 2002, aprova a
alteração para “Ponte sobre o Vale do Menino Deus”, fazendo
referência ao nome do Bairro mais próximo do referido viaduto, o
Bairro Campestre do Menino Deus.
Eis que tem início uma
nova era para o importante cartão postal, imagem que representa a
cidade de Santa Maria, essa foi a conclusão precipitada a que muitos
chegaram à época, pois as relações entre imagem, prática social
e modos de designar não se transformam assim tão rápida e
diretamente. Passaram-se sete anos e a história/memória perdura,
ressoa, retorna; mesmo que sendo dita, oficialmente, de outra forma,
a referência ainda é “Garganta do Diabo”. É ainda do alto da
serra, de cima do “Viaduto sobre o Vale do Diabo”, da “Garganta
do Diabo”, que se lança o primeiro olhar sobre a “Santa Maria da
Boca do Monte”. Selecionamos matérias de jornais locais dos
últimos tempos, sobretudo, de 2009, nas quais é possível observar
esse jogo entre as duas designações: no primeiro plano temos a
“Ponte sobre o Vale do Menino Deus” e, em seguida, entre
parênteses, temos a “Garganta do Diabo”.
Nossa reflexão, então,
traz à baila questões referentes ao funcionamento da história e da
memória, a presença e o funcionamento de cada uma: a primeira
vinculada (neste caso) ao que é oficial; já a segunda, funcionando
no dizer, caracterizando-se como lacunar e saturada, retornando
sempre. Estas duas noções são muito caras aos estudiosos do
discurso e é desta perspectiva que nos propomos a observar as
relações entre imagem, prática social e modos de designar o espaço
público.
Por: Bruno Salazar, Kauan Monteiro, Luana Blum e Luana Sara.
Fonte deste texto:
ResponderExcluirhttp://www.ppgl.ufscar.br/ciad/resumos/resumo_corpus_verlipetri.pdf
Adoro esse lugar!
ResponderExcluirProf Astrid